Nova 01

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Aluno poupado pelo atirador sofre para superar as lembranças ruins e a morte dos amigos

Fabiana Uchinaka

Enviada especial do UOL Notícias



O estudante Mateus Moraes, 13, aluno da sétima série da escola Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio de Janeiro, conseguiu escapar dos tiros de Wellington Menezes de Oliveira, 24. Depois de ter uma arma apontada para a sua cabeça, na quinta-feira (7), rezou, implorou para que o homem não o matasse e foi atendido. Ficou conhecido no bairro como o "gordinho que escapou do atirador".
Passado o alvoroço, no entanto, o menino sofre para se recuperar e voltar à vida normal. Ele contou ao UOL Notícias que não tem conseguido dormir ou comer direito. Nos primeiros dias após a invasão, não conseguia sair de casa. "Só de pensar em botar o pé na rua já me dava vontade de vomitar", afirmou.
Sobre o dia do crime, ele repete rapidamente as lembranças, como se já tivesse decorado uma resposta: "A gente estava sala, todo mundo gritando e chorando, todo mundo nervoso e se escondendo. Uns correram, a professora saiu, mais gente correu. Vi ele atirando nas garotas, mas não vi a cara dele". Respira e conta finalmente o que o atirador lhe falou: "Pedi para ele não me matar e ele disse para eu ficar tranquilo, que não ia me matar. Me deixou vivo e subiu para o outro andar".
Mateus está visivelmente sofrendo com o episódio. Além de ser testemunha de um massacre sem precedentes no país, ele perdeu seus dois maiores amigos de colégio --Igor da Silva, 13, e Rafael Pereira, 14. "Tinha acabado de entrar nessa escola, então não conhecia muita gente. Eles eram os que eu mais convivia. Conversava mais com o Rafael, porque a gente gostava de jogos de computador e videogame e falava sobre isso. Com o Igor, eu brincava na hora do recreio", afirmou.
O menino aposta em recomeço a partir dessa semana. Ele não quer mais voltar para a escola Tasso da Silveira, mas diz que "a vida está voltando ao normal". "Hoje, joguei videogame com uns amigos que vieram aqui em casa", contou. E, promete, vai "trabalhar com o psicólogo".



"Meus sobrinhos"

Se os planos de Mateus se concretizarem, quem vai sentir falta do menino é dona Cleusa Barbosa Batista, 60, que tem uma mercearia ao lado da escola do Realengo, por onde os alunos passam todos os dias para comprar balas, biscoitos e refrigerantes. "Esse Mateus me enche a paciência todo dia", brinca ela. "Entra aqui todo esbaforido, falando pelos cotovelos", conta. Ela parece adorar o menino, que é um dos que mais frequetam a vendinha.
Apesar de dizer que "é muita criança" que passa por ali, Cleusa lembra claramente da menina vaidosa que todos os dias dava uma paradinha no local antes de ir para a escola. "Ela vinha toda empolgada, entrava pedindo licença, falando: desculpa, tia! E ia até o espelho dar uma conferida no visual. Dizia: sabe como é, né? Tem que chegar bonita", contou a comerciante.
A garota vaidosa era Larissa dos Santos Atanázio, 13, uma das alunas que morreu no massacre. As pessoas do bairro lembram dela por sua beleza. O pai dela contou ao UOL Notícias que ela já desfilava e sonhava em ser modelo profissional quando crescesse.
"Quando vi a foto dela no jornal, não acreditei. É muito triste", disse Cleusa. "Para mim, essas crianças são como meus sobrinhos. Todos eles são meus sobrinhos. Então, acho que vou sentir muito mais quando as aulas recomeçarem e eles não passarem mais por aqui. Vou sentir muita falta.”
Ela agora torce para que a escola continue funcionando e formando "grandes nomes, como esses que a gente viu passar por aqui" nos dias seguintes à tragédia

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