Maurício Martins
Eu tinha 12 anos em Bragança,
quando ele apareceu na nossa vida, tô falando de um cara chamado ZdeneckRuzicka;
o theco, ele veio pro Brasil fugindo da segunda guerra mundial, seu país a Tcheco
Eslováquia fora invadido pelos alemães, fugindo do nazismo aportou em São Paulo.
Só sei que ele era um bom mecânico, um ótimo motorista e de São Paulo, não sei
como foi parar em Bragança; e por este homem de cabelo loiros, de olhar
enigmático, minha mãe se apaixonou; este homem acolheu a mim e ao meu irmão,
naturalmente que não como filhos,mas acima de tudo como dois garotos que ele
sabia que de alguma maneira estava contribuindo para educar;nunca me esqueço da
primeira bola que ele nos deu, bola de couro que fez maior sucesso com os
garotos da nossa rua e aí nos podemos fazer nosso time para nossaspeladas no
campinho. Eu sempre fui um garoto muito introspectivo, por isso, talvez ele se identificasse
mais com meu irmão, dois anos mas novo, que geralmente estava com ele no
concerto do caminhão, na boleia do caminhão, meu irmão gostava de estar com
junto dele. Eu, mas focado nos estudos não tinha uma convivência mais próxima,
isso fez com que eu quase não falasse com ele; acho que aí cometi um grande
erro, pois se não nos amasse como filhos, nos respeitava e tratava da gente,
colocando comida no nosso prato e nos oferecendo lazer saudável e acima de tudo
contribuindo com a nossa educação; hoje eu reconheço que poderia tê-lo chamado
em algum momento de pai, se não o fiz, foi por vergonha de mim mesmo, ou para
não machuca-lo. E foi nesta segunda-feira, 11 de novembro, que eu recebi uma
ligação do meu irmão de Belém, Fernando me deu a notícia que Zdeneck Ruzicka há
cinco anos faleceu, aí me dei conta, que cometera mais um erro na minha vida,
poderia nesse tempo todo, tê-lo procurado, sabíamos que ele morava em Marituba,
na grande Belém, poderia te dedicado um tempo mais numa procura, só para agradecer
a ele o que fez por nós, seria apenas um gesto de gratidão, quem sabe um abraço,
mesmo que fosse para se despedir, mas eu falhei não fazendo isso; àsvezes, nós
deixamos de fazer as coisas mais simples que estão ao nosso alcance, que é buscar,
descobrir aquelas pessoas que um dia tivemos um carinho especial, por motivo
outro nos a amamos, mas esquecemos o quanto foram importantes em nossas vidas. Eu
sei que se passasse hoje a noite toda rezando, não conseguiria saldar a dívida
que tenho para com Você, por isso, meu amigo Theco, só penso que Deus o tenha
recebido muito bem, pois assim ele faz com seus filhos queridos; e se houver
uma oportunidade, que eu um dia possa te dar esse abraço na eternidade. Eu e
meu irmão te agradecemos pelo que fizeste por nós. Foram poucos anos de convivência,
mas foi você que abriu o caminho para que dois jovens adolescentes pudessem
chegar neste porto seguro. Quando você levou minha mãe e meu irmão para Belém,
Eu fiquei sozinho por dois anos, mas entendi que aquela separação tinha que
acontecer, para que tanto eu como meu irmão pudesse amadurecer e entender que a
vida não é feita apenas de percalços, que ela com toda sua dificuldade, com
tudo aquilo que se enfrenta de ruim, sempre tem uma pessoa boa a olhar pra nós,
a cuidar de nós; e você fez isso amigo, naturalmente que a sua maneira e nós
entendemos tudo isso. Fica um grande vazio no coração, fica um nó na garganta,
e não tem como evitar as lágrimas que molham meu rosto.
Eu sei acima de tudo, que Deus,
somente Deus é que tem as explicações pra tudo aquilo que nós não temos a
capacidade para entender; hoje o Fernando também me falou que encontrou sua
filha, a filha paraense que você deixou em Belém. Vou junto com ele encontra-la
e talvez seja tarde demais, mais eu te prometo que vou dar um abraço nela, como
se tivesse abraçando você, vou dizer o quanto seu pai foi maravilhoso, que se
não foi nosso pai biológico, foi o homem que permitiu o fortalecimento de nosso
caráter e a formação de nossa personalidade, nos fazendo cidadãos de bem,
cumpridores de seus deveres e obrigações, verdadeiros homens. Pois você nos
ensinou o respeito, a honestidade e o amor. Obrigado Theco !