Nova 01

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A “revolução de Janeiro” de 1995

A arte da construção política para promover as mudanças, 14 anos depois

*Josué Moura

A chamada “revolução de Janeiro”, nome dado por alguns ao movimento que liderado pelo Fórum da Sociedade Civil provocou uma intervenção estadual no município de Imperatriz, completou 14 anos.
Dia 18 de janeiro de 1995, liderado pelos seus representantes dos diversos segmentos sociais da cidade que se juntaram no Fórum da Sociedade Civil, o povo de Imperatriz de maneira inédita foi às ruas em grande passeata e depois ocupou a prefeitura e a Câmara, numa atitude contra o desmando administrativo que a cidade estava vivendo naquele momento, desde que há pouco mais de 1 ano antes havia sido assassinado o prefeito Renato Moreira e em seu lugar assumira o seu vice Salvador Rodrigues de Almeida.

14 anos depois, que lição nós tiramos desse fato histórico? Desavenças pessoais ou política partidária á parte entre alguns que se dispõe a analisar o movimento, devemos considerar que foi nos últimos anos um fato histórico inédito, de forte participação popular e de unidade da sociedade civil organizada. Analistas também criticam o movimento pelo fato de algumas das lideranças do Fórum, logo em seguida à nomeação do interventor, terem aceitados cargos na nova administração, sendo que alguns desses se revelaram de certa forma oportunistas de primeira linha, cedendo aos encantos do interventor que sorrateiramente fez de tudo para cooptar essas lideranças e finalmente desarticular a entidade.

Mesmo com esses desacertos e depois a conseqüente desmobilização do Fórum, o movimento tem o seu valor histórico e de lição do poder popular, do exercício da cidadania.

13 anos depois, o que mudou? Seriam necessárias páginas e mais páginas para analisarmos tudo que a cidade viveu e as idas e vindas do povo de Imperatriz em busca de uma cidade melhor. Mesmo que atabalhoadamente ou de maneira inconsciente, o povo busca sempre uma melhoria.

Sob esse prisma, da vontade da nossa gente valorosa e trabalhadora, temos muito a comemorar, mas administrativa e politicamente olhando no âmbito do Progresso e do Desenvolvimento econômico, não dar para soltar fogos de artifício. Os ideais do movimento de Janeiro não foram alcançados.


Aos trancos e barrancos, discriminada pelos governos sarneisistas que se limitaram à ponte do Estreito dos Mosquitos em São Luís, a cidade avançou.

Governos se sucederam e até a oposição mais á esquerda teve as rédeas do destino administrativo dos imperatrizenses.

A esquerda se perdeu nas delícias do poder e o povo desesperançado resolveu novamente entregar o comando da cidade para o PMDB. Finalmente, desiludido com o PMDB, agora em 2008, o povo entrega o governo para um líder que há muito tentava, mas não havia tido ainda a chance de governar Imperatriz.

Mas até chegar aqui, desordenadamente, a anomia tomou conta de Imperatriz. O desejo da cidade, do espaço público foi substituído pelo desejo do efêmero e, efêmeros também são os valores e a cultura urbanos. Sem vontade política, a preservação de sua imagem e do que é coletivo, foi reduzida a discursos políticos esquecidos logo após os comícios nas eleições dos seus governantes.
Quebra-molas, meio-fios, muros e pilares de viadutos pintados, a maquiagem pode não ser caprichada, agrada a quem passa apressado, sem tempo para perguntar, de quem é a cidade? Turistas e estrangeiros mendigos em seu próprio lugar, sem a mínima consciência de que estamos cada vez mais distante do território urbano racionalmente desejável. Progresso ou decadência? Não é esta a questão do jogo.
Como qualquer cidade, Imperatriz é resultado de transformações de valores, modelos econômicos, decisões políticas e de um pensamento político autoritário que fez criminosamente uso de todas as possibilidades de domínio.
Que imagem de Imperatriz vai sobreviver para o futuro? Será a imagem dos governantes atropelando a história, esquecendo fatos e referências, enterrando rios, ou da nossa juventude drogada se matando sob os olhos passivos de autoridades?
A vida urbana de Imperatriz até aqui tem escancarado o nosso esvaziamento cultural. "A praça é do povo", é o verso do poeta que ninguém mais escuta. A cidade pertence a todos. As ruas não são simplesmente caminhos que levam a algum lugar, mas um lugar de encontro com o desejo, com o outro, o medo, o prazer, a incerteza, as aventuras da vida. A experiência do andar nas ruas e praças tem que ser enriquecedora.
O futuro de Imperatriz é agora um desafio e uma preocupação, pois as ameaças já não são mais previsões de visionários românticos e nostálgicos.


A esperança se renova

A democracia se desenvolve de acordo com o ritmo de dois movimentos: os governos devem construir poder e a oposição deve suscitar alternativas.

O vazio de confiança que até hoje atraiu os imperatrizenses para o despenhadeiro se deve à acumulação de erros históricos, entre eles a implacável instabilidade dos governos e à debilidade de uma sociedade civil que não chega a representar-se continuamente, exemplo disso, foi o esvaziamento e a desmobilização do Fórum da Sociedade Civil, logo após a intervenção.

Madeira tem o crédito de quase 60 por cento dos imperatrizenses, mas todos, indistintamente, somos responsáveis por nossa cidade.

A cidade onde moramos, por escolha ou por contingências da vida nômade proletária, é bem mais que local de trabalho e de consumo. Se viemos de fora, nossos filhos nasceram aqui e podemos, sim, sem ufanismo bairrista, gostar da cidade. E, de fato, nosso trabalho e nossa maneira de viver podem contribuir para melhorar ainda mais a vida dessa comunidade, desigual como outras, promissora como poucas.

O Movimento de Janeiro aniversaria este ano sob o prisma de uma mudança administrativa. Uma mudança não apenas no sentido de pessoas, mas de conceitos e de costumes políticos, pois como disse Herbert Marcuse, “ A meta de uma mudança é um bem-estar que não se define por um consumo cada vez maior, mas pela conquista de uma vida livre do medo, da escravidão do salário, da violência, do mau cheiro, do barulho infernal da sociedade em que vivemos. Não se trata de embelezar a feiúra e esconder a miséria, de plantar flores em empresas e prisões: temos que substituir esta sociedade, e não desodorizá-la. A poluição é física e mental. A luta por um meio ambiente que assegure uma vida mais feliz pode fortalecer nos indivíduos as raízes do seu desejo de libertação. Se os seres humanos já não sabem distinguir entre o belo e o feio, a tranqüilidade e o barulho é porque já não conhecem a qualidade essencial da liberdade, da felicidade. A verdadeira ecologia é um combate a favor da vida."
É o momento de acender as velas de um bolo coletivo para uma solenidade mesmo que imaginária para comemorar a “Revolução de Janeiro” e pensar um pouco sobre a cidade, sobre o município de Imperatriz.
Foi um movimento histórico e merece se contado e recontado em suas várias versões, debatido e analisado. Se uma cidade não tem uma história, seus benefícios não são democratizados, não há uma prática de cidadania, é difícil ser habitada com intimidade e desejo. "E quando o homem é atingido por uma falta de desejo, é quase uma doença, não no sentido moral, mas quase no sentido físico do termo. Um homem sem desejo estiola. O mal estar, a crise de civilização de que hoje se fala, é talvez uma crise do desejo." (Roland Barthes).

Estas reflexões podem servir para colocar sinais no trajeto do novo governo. O diálogo na política é tão indispensável quanto o compromisso. Não obstante, ambos poderiam concluir, numa ação inútil, por não mediar a vontade de identificar-se com as reivindicações da sociedade civil. Algumas dessas exigências são singulares, outras, ao contrário, são como um rumor nos gritos e gestos das vítimas.

Disso se trata, em suma, de recuperar a dignidade. É uma tarefa por si só difícil, pois a arte da construção política caminha de maneira mais lenta que a da contestação social. Esta última é tributária das mobilizações sociais, que surgem dos interesses afetados, como foi a “Revolução de Janeiro. Ao contrário, exigem uma tenacidade mais firme para aproximar posições e superar a tentação de monopolizar a verdade e a virtude.

É uma arte que antecipa um estilo de governo mais atento ao valor do consenso sobre determinadas políticas públicas. A confrontação não resolveu estes problemas e eles aí estão para maiores dados, as igualdades que não crescem e a violência social que não decresce. Estas são as capas da descrença coletiva que se deve atravessar.


*Josué Moura é jornalista/radialista e um dos líderes do Movimento de Janeiro de 1995.

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